quinta-feira, 29 de março de 2012

Billy Wilder e o screwball com Jack Lemon e Walter Mattau

Dos mestres do cinema clássico americano que seguiram dirigindo após a mudança do estado das coisas nos anos 1960, Billy Wilder é um dos poucos que seguiu fazendo filmes realmente bons.

George Cukor entrou num clima nostálgico recheado por filmes sonolentos; William Wyler foi irregular; Mankiewicz preferiu manter-se na superfície e num discurso moralista. A exceção, além de Wilder, é Elia Kazan, que fez dois filmaços pós-anos 70, The Visitors (1972) e O Último Magnata (1976).

Kazan e o assunto do que os grandes estavam fazendo na década de 70 fica para depois, porque o propósito deste post é o antepenúltimo filme de Wilder, A Primeira Página (The Front Page), feito em 1974. Uma refilmagem do longa homônimo de 1931, que por sua vez fora adaptado por Howard Hawks em 1940 sob o título de His Girl Friday – que eu acho bem chatinho.

Com Wilder, é uma comédia screwball que “discute” a “relação” intempestiva de um editor sedento por furos (Walter Mattau) e um repórter de primeira linha (Jack Lemon) que decide abandonar o ramo para se casar com a linda Peggy (Susan Sarandon), mas tem de brigar com a resistência do patrão.

A screwball comedy, que no Brasil convencionou-se chamar de comédia maluca, geralmente envolve um homem e uma mulher, um mais comportado, outro agressivo. Na perfeita definição do famoso crítico Andrew Sarris, trata-se de “comédia sexual sem sexo”. Nisso A Primeira Página mostra uma de suas genialidades.

O grande “casal” do filme são dois amigos, o editor e o repórter, mas que agem com emoções de namorados, que se amam e se odeiam – não conseguem ficar juntos sem brigar, mas separados quase perdem o sentido da existência. Não há uma insinuação de homossexualidade (que o roteiro deixa para um outro repórter do grupo que fica jogando pôquer e esperando a notícia acontecer para correr atrás dela como urubus).


Jack Lemon, o repórter que quer largar o osso, e Walter Matthau, que tenta impedi-lo

É muito interessante como Wilder e seu filme roteirista I.A.L Diamond – juntos escreveram doze filmes entre 1957 e 1981 – conseguiram trabalhar com o screwball entre dois homens, diferente do filme de Hawks, que tinha Cary Grant no papel do editor e Rosalind Russell como a repórter que queria se casar.

Claro, parte da diversão do filme vem da dupla Lemon/Mattau, que trabalhou junta em vários filmes de Wilder e continuou a parceria nos anos 90, quando Wilder já tinha se aposentado. Mas há também o mérito da direção e do roteiro: Wilder/Diamond tinham pena afiada para escrever diálogos e Wilder sabia como filmá-los.

Billy Wilder continua sendo um diretor que a cada filme visto ou redescoberto me deixa boquiaberto. Como ele conseguiu fazer tanta coisa boa flutuando nos gêneros? Como não chamar de genial o cara que faz um grande melodrama como Farrapo Humano (1945), um filme-espelho do cinema como Crepúsculo dos Deuses e comédias como Quanto Mais Quente Melhor (1959)?

Os filmes de Wilder são como as canções de Arnaldo Baptista: fonte de prazer contínuo. Em importância para suas respectivas artes, o plano com o diálogo “Mr. De Mille, I'm ready for my close-up” está no mesmo nível de “Não gosto do pessoal da Nasa. Cadê meu disco voador”.

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